Copa 2014, trem-bala e licitações, o que têm em comum?

Além do óbvio, que as contratações públicas deverão ocorrer por meio de licitações – o que, até disso, tenho duvidado ultimamente – esses três assuntos têm comum também o planejamento e o compromisso com o interesse público.

Estava lendo a revista Veja, edição de 04/05/2011, e não sabia se ficava indignado com o conteúdo das matérias (a seção Brasil repleta de casos de corrupção e a internacional, de fraude), com as propagandas (de 166 páginas da revista, 75 são propagandas) ou com perceber a incapacidade brasileira de reagir aos seus problemas estruturais: educação, infra-estrutura, corrupção, corrupção, corrupção...

A Copa do Mundo de 2014 está aí, batendo à porta, e ainda não se definiu o que realmente precisa ser feito, com que recursos (o público sempre sai prejudicado) e como. Mas sabemos aquilo que não temos condições de fazer.

Ora, como lembrou Roberto Pompeu de Toledo (pág. 166), a Dilma herdou essa lula. Embarcamos nisso pela nossa paixão pelo futebol, por vibrarmos com a Copa e com a seleção, por mais que ela perca. Porém, a partir da escolha do Brasil como sede, essas questões de planejamento já deveriam ter começado. Se não foi, o trem passou. A minha preocupação é: qual preço o povo vai pagar por essa paixão? Pedir para sair é uma solução? O que você acha?

Falando em trem... Apesar de ser outra trem_bala2-1herança, o trem-bala está sendo planejado. Mas planejado à força. Segundo Maílson da Nóbrega (pág. 125), apesar de vários questionamentos quanto à motivação do empreendimento, já há financiamento do BNDES de R$ 20 bi aprovado. Há projeto, mas não é confiável. É arriscadíssimo. Os benefícios são ínfimos e não há ninguém interessado nessa aventura. Meu Deus, por que continuar!? Voltamos aos tempos das obras faraônicas? Enquanto a educação e a saúde, à míngua.

Como os princípios constitucionais, principalmente os do art. 37, são esquecidos. Será que sabem o que significa eficiência? E quanto à licitação destinar-se a garantir a promoção do desenvolvimento nacional sustentável, parte do art. 3º da Lei 8.666/1993, recentemente alterado pela Lei 12.349/2010, será que aprovaram sem ler? Não seria a primeira vez.

Outro dia estava lembrando quando eu era criança e prestava atenção nas pessoas conversando sobre eleições. Algumas falavam: eu vou votar no fulano porque ele rouba, mas faz! E eu, criança, achava que fazia sentido, pois assistia ao noticiário com meu pai e tudo o que passava era escândalo atrás de escândalo, e nenhuma daqueles que estavam sendo acusados tinham feito alguma coisa de bom, não que o meu pai soubesse, porque ele sempre falava: aí mais um que nunca fez nada de bom!brasil-palhaco

Agora penso, será que realmente precisamos daquele tipo de política: se não formos pressionados, por mais que paguemos caríssimo, não evoluímos, não progredimos, não nos desenvolvemos. Precisamos da Copa de 2014, por mais que as licitações saiam nas coxas? Precisamos de um trem-bala só para nos iludirmos sermos modernos?

Mas eu não precisei crescer muito para entender que o preço dessa falta de planejamento, de comprometimento com a nação, é impagável. Mais uma vez chamo atenção para o fato de que não adianta o processo licitatório estar com edital sem vícios, a fase externa e a execução serem perfeitas se o que os motivou foi infundado. Não adianta os profissionais da área de licitações executarem bem suas funções se quem manda – ordenadores de despesa, governadores, prefeitos, secretários, diretores, presidentes, etc. – atua com irresponsabilidade, de forma descomprometida com a pátria mãe gentil.

Enfim, Copa 2014, trem-bala e licitações têm em comum também a oportunidade impulsionar o desenvolvimento do país ou a de, mais uma vez, nos envergonharmos, ficarmos embasbacados e calados. Você concorda?

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